terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A 308 e seu legado.


Todos os que já se aventuraram pelo mundo do Parkour alguma vez, sabem a importância que um determinado lugar ou ambiente da a um treinamento. Bom, no meu caso, toda vez que penso em um lugar de treino, a primeira coisa que me vem à cabeça é um pico chamado 308 sul, localizado na minha cidade, Brasília.

Desde a primeira vez que pisei na 308 com o intuito de treinar, logo senti que ali havia algo de especial. Talvez agora que não estou vivendo mais em Brasília, mas apenas passando as férias, eu perceba isso com mais clareza. Mesmo que seja uma região com uma característica mais plana, sem grandes alturas e grandes desafios aos olhos de todos, é um ambiente que transmite uma paz impressionante quando se está treinando, e isso estando no coração de Brasília.

É verdade que toda a cidade de Brasília é repleta de lugares que transmitem uma tranqüilidade e oferecem uma arquitetura propicia ao Parkour, talvez tudo isso esteja muito relacionado também a quantidade de árvores e verde que existe por toda a cidade, também aos grandes espaços. Mas também não posso negar que a 308 foi uma região que se destacou entre todas as outras quando falamos do Parkour Candango. Nunca deixei de ter certeza que a relação do Parkour com a 308 cumpre o propósito dos idealizadores desse lugar, mas talvez não da forma que imaginavam.

Na Europa vi picos incríveis, repletos de muros, e passarelas de todas as formas, ambientes que ao olhar você poderia ter a certeza que foi feito especialmente para praticar o Parkour. Mas agora, ao voltar a minha cidade e reencontrar a 308, posso dizer que ela para mim é o melhor lugar para se treinar Parkour no mundo. Talvez as pessoas pudessem me xingar agora por eu dizer isso, e até mesmo argumentarem citando alguns picos famosos do Parkour, como a Dame Du Lac em Lisses, a cidade de Evry, ou até mesmo picos famosos na Inglaterra. Mas para mim a 308 continuaria sendo o melhor lugar para treinar.

Lembro até hoje de meus primeiros movimentos naquelas árvores tortuosas que parecem ter sido milimetricamente feitas para nós praticantes de Parkour. Não faltam alternativas de movimentação, tanto que até hoje praticantes criam novas possibilidades quando todos acham que já não há mais nada a se criar. Lembro bem de meus primeiros saltos mortais saindo dos cogumelos de concreto e aterrissando naquela areia não muito macia. Me lembro bem das infindáveis repetições e desafios naqueles muros que parecem mais terem sido feitos por cacos de vidro, mas que forjam mãos incrivelmente fortes e resistentes para a prática do Parkour. Canteiros de concreto que mesmo sem muita altura, te oferecem diversas opções de distancia para um salto de precisão . Não poderia deixar de citar a Escola de Jardim de Infância situada no meio da quadra. Os que já subiram na laje, sabem que ali se pode passar o dia todo treinando sem descer (Mas cuidado com o zelador, ás vezes ele está por lá e nem sempre ele está de bom humor). Os mais sabidos sobem lá apenas em dia de domingo.


Não poderia me esquecer do movimento de pessoas que existe ali. Normalmente gente alternativa que gosta de passar um tempo abaixo das arvores sem fazer nada, fumando ou bebendo. Outros que vão ali só para fazerem necessidades atrás de uma moita, assim tornando um local não sempre com um bom cheiro. Eu e meus amigos costumamos dizer que quem treina na 308 está preparado para tudo, até mesmo para doenças, já que convivemos sempre com essa sujeira humana e nunca pegamos nenhuma doença. Mas posso admitir que a 308 tem estado mais limpa e mais bem freqüentada, pelo menos nas ultimas vezes que estive lá. Já me aconteceram coisas bem marcantes em relação a isso, como ter que levar pontos no braço por conta de um corte que sofri ao cair em cima de um vidro deixado por la, ou escalar uma árvore e perceber que ao tocar um tronco, havia tocado também em um coco humano por ali.

Bom, eu poderia ficar aqui contando muitas histórias e falando o quanto a 308 é especial para mim. Posso dizer que foi principalmente ali que o velho Pedro foi morrendo aos poucos, e um novo Pedro começou a nascer, ou melhor, foi ali que comecei a conhecer quem realmente é o Pedro. Mas tenho certeza que nada disso que falei até agora teria sentido se não houvesse as pessoas com quem compartilhei todos esses momentos genuínos, e que hoje são todos meus amigos. Os risos, os desafios, os treinos mais sérios, os não tão sérios, até mesmo os nada sérios. Ali pude compartilhar uma amizade verdadeira com muitos, uma amizade sem interesses, sem intrigas e problemas, apenas a paixão pelo movimento e pela vida. Ali era nosso local sagrado, nosso refúgio de um dia-dia cheio de problemas. Talvez seja por isso que os considero todos eles meus amigos, mesmo sem as vezes conviver muito fora daquele momento de treino. E isso porque sei que para 308 não levávamos problemas e negatividade, levávamos apenas nós mesmos, e por isso acabávamos compartilhando apenas momentos verdadeiros e evoluíamos juntos.

Bom, a razão inicial desse texto talvez seja a minha vontade de que esse espírito continue por lá, mesmo no dia em que nenhum de nós estivermos mais presentes. Gostaria de encorajar a todos os que estão começando a treinar por lá agora, que saibam oque esse lugar representa para muitos que treinaram ou treinam ainda por lá. E mesmo que se um dia a 308 não exista mais, que se lembrem do espírito de amizade e alegria mas também de treino e evolução que um dia existiu no Parkour de Brasília.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

EMPK 2011 em Paris.

Recentemente foi realizado em Belo Horizonte, o 5° Encontro Mineiro de Parkour. Esse evento sempre demonstrou de fato a grande competencia e engajamento do grupo PKMAX em
relação a nossa atividade.

Esse ano a idéia foi trazer 2 dos fundadores Yamakasi, grupo francês que deu origem a disiplina que conhecemos hoje como Arte do Deslocamento.

Para realizar o evento, o PKMAX precisou contar com a colaboração de toda a comunidade brasileira para financiar-lo. E posso dizer que essa espera nao foi em vão. A comunidade respondeu, e respondeu a altura. Ultillizando o site do Cartase foi possivel reunir todas as contribuiçoes vindas de todas as partes do pais, e, ao final, obter quantia suficiente para realizar o evento. Se pode ver exatamente como funciona esse sistema de contribuiçoes na propria pagina do evento.

Bom, a verdade é que me deu muita vontade de também participar desse evento, ainda mais estando longe do Brasil. Dessa vez realmente ficou dificil de a minha participação la em BH acontecer. Entao logo me veio uma idéia de talvez poder participar de uma forma um pouco diferente.

Decidi que iria realizar um treino aqui em Paris, no mesmo dia do evento realizado em BH. Pensei que talvez mesmo estando sozinho eu poderia fazer algo. Entao montei um treino bem puxado pro dia. Eu sabia que estaria dificil para mim, ainda mais sabendo que eu vinha de uma semana de muitos treinos e estava com meu corpo ja "pedindo arrego". Mas quando me vinha esse desanimo eu logo ja pensava que não estava fazendo isso para mim, e sim para todos os meus amigos no Brasil que estariam sofrendo tambem la no Encontro Mineiro.

Quando começei o treino eram 10 horas da manha, porém o sol estava forte, sem nenhuma nuvem no ceu. Me fez muito lembrar de Brasilia em dias de calor. Parece que tudo vinha para me desanimar e me fazer desistir. Mas mesmo assim eu mantinha o foco e pensava apenas no proposito principal.

Normalmente quando faço treinos fisicos, sempre costumo fazer series com um determinado numero e + 1 repetiçao para dedicar a alguem, seja algum amigo ou familia, ou mesmo algum amigo que não pode estar presente no treino. Mas nesse dia fiz um pouco diferente. Decidi fazer todas as series dedicadas ao meus amigos do EMPK em BH e +1 repetiçao de cada exercicio para mim mesmo. Porque na realidade eram meus amigos que iriam precisar de força la no evento, e eu, ja vinha de dias com treinos muito intensos, e nao precisava de tanto para mim mesmo. Essa foi a forma que encontrei de talvez doar minha energia para todos que iriam estar la suando e sofrendo, mesmo estando bem distante.

Bom, eu decidi filmar tudo, e recentemente editei o video que mostra basicamente como foi esse treinamento.

Espero que todos tenham aproveitado da melhor forma, e que esse encontro tenha servido para bons aprendizados, mesmo que nao estejam ligados exatamente a como saltar ou escalar melhor.

Um abraço, mantenham-se fortes e comam açai.


domingo, 28 de agosto de 2011

Poucas palavras sobre velhos assuntos.



Desde março desde ano tenho vivido em Paris, capital francesa. Tenho tido a oportunidade de estar mais próximo dos fundadores do grupo Yamakasi, e me aprofundar na disciplina praticada por eles. A mesma que eu julgava conhecer muito bem antes, mas que vi que eu tinha muito caminho a percorrer ainda.

É importante entender alguns pontos, ou pra quem já entende, apenas relembrar:

1 - Parkour é uma denominação utilizada por David Belle e criada em 1998. Foi tirada da expressão Parcours du Combatant. É uma idéia que visa a eficiência ou a utilidade no movimento. Sair de um ponto A e chegar a um ponto B da forma mais rápida e eficiente possível. Ele foi inspirado principalmente por seu pai, Raymond Belle, que foi um militar e oficial dos bombeiros da França.

2 - Free Running é um nome que foi utilizado por Sebastian Foucan juntamente ao produtor de Jump London, para divulgar o Parkour no Reino Unido. Parkour não soava muito bem em inglês, então chamaram de Free Running, adaptando assim para o inglês e ajudando a expandir a pratica nos países de língua inglesa.

3 - L’art du deplacement ou Arte do deslocamento em português, representa toda a origem dessa disciplina. Era quando ainda alguns jovens rapazes gostavam de subir telhados e arvores, mas não sabiam muito bem do que eram capazes. Então decidiram buscar isso a fundo em suas vidas. Isso tudo com apenas uma pergunta em mente: Como posso ser forte? Ou melhor: Oque é ser forte? E era apenas essa pergunta que os movia. Então com isso em mente, começaram a desenvolver movimentos e treinos no próprio meio onde viviam. Cada parte da cidade, seja pequena ou grande se transformava em algo fazer algum tipo de treinamento. Em 1997 fundaram o grupo Yamakasi. O grupo original era formado David Belle, Sebastian Foucan, Chau Belle, Guylain N'Guba Boyeke, Charles Perriere, Malik Diouf, Williams Belle, Yann Hnautra e Laurent Piemontesi.

A partir disso creio que posso colocar meu pensamento e experiencia pelos quais vim trazer. Talvez a razão inicial desse texto seja o meu ainda descontentamento com tudo que tenho visto nos dias de hoje em relação a má propagação dessa disciplina. Porém gostaria de me concentrar mais nas experiências que tenho vivido por aqui e tentar passar um pouco dela, mesmo que seja através de poucas palavras.

Bom, desde o ano passado tenho tido a oportunidade de encontrar Sebastian Foucan em diversas situações, e também de trocar bastante idéias com ele, seja em Londres ou em Evry. Foucan é alguem tem sua própria filosofia na hora de se movimentar, e leva isso para sua própria vida. É o tipo de pessoa que nunca vira as costas para alguém. Sempre estimula que os praticantes encontrem seu próprio caminho na hora de se movimentar, e assim, se soltarem de conceitos pré-estabelecidos. A partir daí comecei a entender mais o conceito de Free Running. No principio Foucan tinha a idéia de divulgar o Parkour, mas no final acabou colocando seus próprios ideais dentro da disciplina e seguindo seu próprio caminho. Hoje quando falamos Free Running já pensamos em muitos mortais e movimentos estéticos. Mas na verdade Free Running significa você seguir o seu próprio caminho, seja com mortais ou com movimentos eficientes. Free Running é uma idéia muito ampla, mais ampla do que nós imaginamos.


Isso vai soar meio estranho e confuso, mas David Belle quando criou o Parkour, acabou fazendo um Free Running (mesmo que ainda não existia essa expressão ainda na época). Isso mesmo, pois David Belle é alguém que seguiu seu próprio caminho dentro da disciplina de ser forte. Ele foi atrás do seus ideáis influenciado principalmente pelo seu pai, um bombeiro parisiano, profissão em que eficiência é a palavra de ordem. Ele se concentrava na idéia de movimento útil, mesmo que ainda assim era um exímio acrobata e artista marcial. A verdade é que o fato de ele ser um exímio acrobata e artista marcial também veio dessa mesma idéia de “como posso ser forte?”


Falando um pouco da minha experiência junto aos fundadores Yamakasi , isso tem me mostrado como nunca antes sobre o conceito de ser forte. Ultimamente meus treinos junto a Chau, Williams, Tony e outros, tem sido intensos. Tenho participado de treinos pessoais de cada um deles e descoberto melhor que o treino desses caras vai muito além que apenas oque eles mostram nas classes da ADD Academy. Essa é uma gente que está mais acostumada a ficar em posição de quadrupedia que em posição normal. Ver tudo que acontece pelo lado de dentro é um pouco diferente do que só observar por fora. Disso eu já sabia, mas talvez ainda não sentia. Os treinos são muito duros, muito mais que Parkour Generations ou que qualquer outro grupo com quem eu já tenha treinado. Obsevo muito bem que deslocar-se livremente em um ambiente talvez seja só uma pequena fatia do bolo. Na verdade é a ultima coisa que fazemos. Nunca vi nessa atividade um treino de condicionamento físico ser tão intenso e completo como os que vejo aqui. Toda vez que estou treinando com algum desses caras eu me sinto como se estivesse dentro do universo de Dragon Ball. Não existe ‘’pegar leve’’, nem simplesmente a palavra ‘’treinar’’ para essa gente, la existe apenas a expressão ‘’treinar duro’’. E é assim que vivem suas vidas, treinando duro a cada dia. Não só fisicamente mas mentalmente também.

A partir disso fico imaginando como era o começo, quando David, Sebastian Foucan e outros ainda faziam parte desse mesmo grupo. Entendo melhor que todos eles possuem a mesma raiz, o ‘’TREINAR DURO’’. E cada vez que penso nisso me entristeço um pouco. Me entristeço por que vejo que muita gente que ignora o conceito ligado por trás dessa atividade, o conceito de ser forte. Nunca será possível separar Free Running de Parkour e de Arte do Deslocamento, pois todos tem a mesma raiz, a mesma idéia de buscar ser alguém forte, tanto fisicamente quanto mentalmente. Precisamos entender que somos pessoas únicas no mundo, que cada um de nós possuímos diferenças. E por isso talvez seja possível que se criem mais outros 1000 nomes pra essa prática de saltar, pois cada um tem seu próprio conceito de liberdade, sua própria idéia de ser feliz, todos nós possuímos algo dentro de nós que nos estimula e nos da força para acordar e viver mais um dia de nossas vidas. Mas estarei mais feliz quando as pessoas passarem a não deixar de lado a pergunta básica ‘’como posso ser forte?``, assim elas vão entender que saltar é apenas um meio, e não o objetivo final.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Festival de Hipocrisia no Parkour Brasileiro

É certo que toda a cultura do povo brasileiro influencia diretamente no cenário do Parkour em nosso país. Inclusive aquela parte de nossa cultura que está acostumada a reverenciar tudo que vem de fora de nosso país, esquecendo assim de nosso próprio valor como indivíduos. E a mídia só ajuda cada dia mais esse tipo de coisa.

Nesses últimos dias todos nós da comunidade brasileira de Parkour, presenciamos um fato que nunca havíamos presenciado nunca antes em parte alguma do planeta. A competição de Free Running, Redbull Art of Motion, foi invadida por dezenas de indivíduos, com o a idéia inicial de fazer um protesto contra competições de Parkour ou Free Running. De fato, essa história começou a muitos meses atrás, quando a RedBull começava a organizar o evento juntamente com alguns membros da ABPK.(Associação Brasileira de Parkour), e ao que me parece esse fato foi apenas a ponta do Iceberg. A comunidade Brasileira de Parkour tem evoluído de uma forma bem peculiar, isso é fato. Gostaria de colocar alguns pontos de tudo que penso a respeito de campeonatos, Parkour, Free Running e de tudo que vem acontecendo recentemente.

Vejo que essa divisão entre Free Running, Parkour e etc, sempre foi um grande problema para nós Brasileiros, talvez mais que em qualquer outra parte do mundo. Vivemos em um país grande, com diferentes culturas, diferentes convicções, e no Parkour não é diferente, vejo milhares de visões e filosofias diferentes sobre a arte que praticamos. Tudo isso é uma grande hipocrisia. SOMOS TODOS INFLUENCIADOS POR UMA MESMA ARTE, A ARTE DE SE MOVER PERANTE OBSTACULOS. A diferença é que alguns não sabem ou esquecem porque fazem isso.

Eu já estou nesse meio, já faz hoje quase 6 anos e pouco me importa isso, poderia ser 1 ou menos que isso, daria igual. Porque sempre estive convicto de minha postura como praticante, desde meu inicio quando ainda eu não sabia nem como fazer simples movimentos. Eu sempre soube porque eu salto, escalo, rolo, e porque não, também giro, mesmo que nunca tenha sido meu foco principal por uma opção minha. Mas vejo gente que mesmo com muitos anos de treino nas costas ainda não sabem bem porque fazem isso, ou se sabem, fazem isso por motivações superficiais, uma busca intensa por ego e reconhecimento. Não é oque sempre fiz e oque sempre tentei mostrar. Tenho amor pelo que faço, e tenho meus motivos que me fazem continuar a praticar, mesmo que meu objetivo seja muito diferente do objetivo de muita gente que conheço, até mesmo amigos próximos a mim.

Desde sempre, nunca apoiei competições de Parkour ou Free Running. Para mim as duas atividades tem a mesma origem, são a mesma coisa. La atrás quando ninguém pensava em fazer na possibilidade de subir um muro na rua, Foucan, Belle, Yann, Chau e outros começaram juntos a desenvolver uma ideia que visava uma busca interior, e assim compartilharam desse mesmo espirito de treino durante anos. Aquele mesmo espirito que os motivava a quererem estar cada dia mais fortes, apenas isso. Mas em algum momento da história esse espirito foi perdido, ou foi condensado pela mídia, que só esta interessada em fazer dinheiro e conquistar audiencia. Para mim o RedBull Art of Motion representa bem isso, O ESPIRITO DA ATIVIDADE SENDO PERDIDO, ou se não está sendo perdido totalmente, em alguns casos está sendo simplesmente vendido, de forma bem barata. Falo isso, porque sei que muita gente que está participando desses campeonatos, são pessoas que possuem um bom espirito de treino e sabem bem oque fazem, são ótimas pessoas. Mas não consigo entender porque algumas dessas pessoas por quem preso tanto, vendem todo o valor que possuem de forma tão barata. Não consigo entender porque a busca por prestigio e reconhecimento deva ser maior que a busca interior. Isso eu realmente não entendo.

Mesmo assim, tenho que dizer que eu e todos que não concordam com competições dentro dessa atividade não podemos fazer tantas coisas para impedir que isso aconteça, pois esse é o mundo em que vivemos, esse é o ser humano. Quem acha justo um rei transformar dois guerreiros em escravos, e obrigarem eles a se enfrentarem até a morte em uma arena perante a um grande publico e apenas para se ter diversão e promover seu governo?? Repito, esse é o ser humano. Em competições dentro do Parkour, existe um pouco disso, são os reis dos dias atuais usando a habilidade dos demais para fazer crescer seu império. Gostaria de perguntar a cada um dos que participam desse evento, quantos gostam de RedBull como bebida ou estão realmente engajados a difundir essa marca, se realmente acreditam na RedBull como um propósito de vida. Porque na prática, é isso que cada um desses participantes estão fazendo. Estão apenas vendendo suas horas de treino e esforço, para promover uma lata contendo um produto químico dentro. Seu Parkour vale realmente isso?? Pois é oque parece. Ao meu ver, não são na pratica, livres como pensam ser.

Realmente eu posso entender que para muita gente, assim como para mim, o RB Art of Motion é algo que não tem nada do verdadeiro espirito da atividade, posso entender a indiguinação de muitos. E a vontade que da, é realmente de fazer isso que aconteceu de fato. Da vontade de invadir o palco principal e gritar a todos oque pensamos. Mas quem nos da o direito de fazer isso?

Não achei legal a forma de protesto, mesmo que entre os idealizadores estejam pessoas que sempre admirei muito e que sempre me inspiraram de alguma forma. Se praticar o Parkour é uma busca constante para ser forte, tanto fisicamente quanto mentalmente, eu acredito que esses praticantes de alguma forma não tiveram força suficiente para deixar de fazer oque fizeram e evitar mais divisão. Foi um ato imaturo, que só fez com que essas pessoas ficassem ao mesmo nível do evento. Promoveram algo, que no final só servirá para causar mais divisão e intrigas. Fiquei muito triste ao saber que pessoas quem sempre admirei estavam envolvidas nisso. Mas apesar disso, eu entendo o sentimento que as moveram, porque eu compartilho talvez desse mesmo sentimento.

Na minha visão de mundo, a melhor forma de se mudar algo, é você ser essa mudança. Então não consigo pensar em uma outra forma melhor de protestar contra campeonatos dentro da atividade, do que tentar fazer tudo que vai ao oposto disso e fazer com que essa ideia atinja cada dia mais pessoas. Enquanto a comunidade Brasileira não se unir de verdade em torno do que realmente interessa, fatos como esse vão se repetir, as pessoas vão continuar se agredindo, e vai haver mais divisão. Foi fazendo as coisas ‘’a base da força’’ que se houve as maiores tragédias da raça humana

Se não existisse a RebBull, seria uma outra organização que faria campeonatos, não há como evitar, podemos chorar, rolar no chão, espernear, isso não vai mudar assim tão repentinamente. Talvez algum dia mude e não existam mais pessoas tão interessadas em prostituir o Parkour, ou se promover através dele. Mas não é interessante perder tempo esperando muito por isso, nem formulando planos mirabulosos que farão as competições acabarem. Melhor que você seja a mudança que você que ver nesse meio, assim talvez algum dia cheguemos lá

quarta-feira, 2 de março de 2011

Inspire-se, mesmo que em você mesmo.


Depois de algum tempo praticando o Parkour ou qualquer outra atividade, é normal que se note algum cansaço, ou falta de inspiração para seguir. É nisso que tenho pensado muito recentemente, porque eu mesmo sou uma dessas pessoas que já viveu esse tipo de coisa e sempre estou sujeito a passar por isso caso eu não cuide de mim mesmo e das coisas que me fazem estar feliz.

Os anos passam e hoje percebo muitos praticantes mais antigos com falta de inspiração, deixando os treinos mais um pouco de lado por não sentirem mais prazer em se desenvolver na atividade. Alguns ainda tentam lutar contra isso e procurar novas inspirações, outros simplesmente penduram os Kalenjis de vez. Mas para entender porque isso ocorre e tentar buscar uma resposta é preciso voltar lá atrás. É preciso pensar em quando essas pessoas estavam iniciando seus treinamentos e quando cada salto era uma nova descoberta. E para isso quero usar meu próprio exemplo, minha própria história.

No meu inicio a busca por desafios era muito intensa. Aquela sensação de “acho que posso fazer isso com um pouco mais de distancia, ou de altura” era um combustível que parecia infindável. Eu tinha fome de treino, pois a cada treino eu sabia que eu tinha muito a ganhar. Prestes a completar 19 anos, idade não era razão para me desanimar, mas muito pelo contrário, para mim era só mais um fator para que eu colocasse mais metas em meu caminho. Assim eu pensava: “Se eu chegar aos 30 anos com um nível físico e técnico muito bom já me sentirei realizado. Então tenho pouco mais de 10 anos para fazer isso, creio que é tempo bastante”. E eu mal sabia que trabalhando duro, essa evolução viria muito antes do que eu imaginava.

Já com pouco mais de 2 anos de treinamento eu me sentia absurdamente forte como eu nunca esperei estar, tanto que em algumas ocasiões parecia dar igual para mim efetuar uma técnica de maneira certa ou errada pois nesses casos minha força cobria essa deficiência técnica facilmente. Era estranho me dar conta de que no inicio de tudo fazer um planche (muscle-up) era talvez como dar a luz a um filho e que agora fazer 15 planches consecutivos era uma coisa que eu fazia com relativa facilidade. Fazer centenas de landings de cima do muro aos sábados já era uma coisa tão normal quanto comer o pão a cada manhã. O fato é que treinar só com o peso do próprio corpo já não bastava para mim, agora eu usava coletes de peso em diversos tipos de exercícios. Creio que esse ano era o de 2008 quando editei um vídeo com algumas cenas desse ano (Santigas 2008 Parkour Session). Mesmo com toda essa evolução física que estava exaurindo do meu corpo, eu comecei a sentir que aquilo não bastava. Estava muito feliz de ter conseguido em muito pouco tempo oque eu havia planejado para muito mais tempo, porém, me sentia incompleto e sabia que necessitava agora destravar mais minha mente, assim como também meu corpo perante os obstáculos, estava com sede de trabalhar técnicas que deixassem meus movimentos mais leves e mais flúidos. Foi quando eu decidi deixar os treinos físicos mais um pouco de lado, mas sem esquece-los, para assim dar mais atenção aos movimentos.

E foi assim então que comecei a prestar mais atenção aos mínimos detalhes de cada movimento. Corrigia pequenas falhas de postura e tentava fazer de cada simples salto uma busca pela perfeição. Eu encontrei muitas dificuldades nesse período, porque muitas vezes a própria anatomia de meu corpo não me permitia avançar naquilo que eu desejava e isso me deixou frustrado por muitas vezes. Mas isso não durava muito porque logo eu lembrava que o caminho que eu estava percorrendo era apenas meu e não podia deixar com que ninguém dissesse o que era bom ou ruim para mim, mas apenas eu mesmo. E era assim que eu me sentia mais tranquilo e aceitava melhor minha posição. Era assim que eu conseguia tirar meu foco de movimentos padronizados e focar somente em mim. E isso fazia com que eu me expressasse de maneira genuína, não apenas tentando copiar algo já existente. Nesse universo do Parkour, sabemos que muitas pessoas fazem vídeos tentando mostrar algo jamais visto, buscando de alguma forma revolucionar ou provar algo. Isso realmente nunca esteve em minha pauta. Procurei sempre fazer as coisas focando em minha própria melhoria, buscando sempre uma nova descoberta interior. Sempre me alimentei de auto-descoberta. Sinto que 2009 e 2010 foram anos em que senti uma evolução muito grande tecnicamente falando, principalmente durante minha jornada a Europa no segundo semestre do ano passado quando os treinos eram realmente o único propósito em minha vida. E agora, de volta ao Brasil, me encontro em uma fase totalmente nova em minha vida.

Hoje, cada passo que dou adiante, mais me deparo com “a vida adulta”, menos tempo tenho para somente treinar, me divertir e me auto-descobrir. Vejo que de nada irá valer todos esses anos de treinamento árduo se eu não aplicar isso em minha vida cotidiana, seja no trabalho, com a família, nos meus relacionamentos ou em qualquer outro tipo de coisa que eu faça. Saltar, escalar, e todas essas habilidades são oque menos importam. Não treinem somente esperando que em algum dia vão usar o Parkour de forma prática em uma situação real, porque sabemos que a coisa não funciona bem assim.

Uma prova disso é que no mês passado, só depois de 5 longos anos praticando o Parkour eu me encontrei em uma situação em que eu realmente precisei usar de forma prática em minha vida. Eu dormi no apartamento de um primo meu, e no dia seguinte pela manhã necessitava sair para gravar uma reportagem junto aos meus companheiros, porém meu primo havia saído para o trabalho e me trancado dentro de casa. Logo eu vi que havia 2 opções: perder a reportagem, ou descer o prédio pelo lado de fora da janela. Depois de exitar umas 3 vezes eu decidi que iria sair pela janela e descer os 4 andares que me separavam do térreo. Tive um sentimento indescritível quando eu já estava no chão, após descer tudo. Foi a primeira vez em que considero que o Parkour em sua forma prática realmente foi útil em minha vida cotidiana. Mas não creio ser muito inteligente esperar por momentos como esses, a não ser que você trabalhe para o corpo de bombeiros, ou para uma policia especializada. Mas foi bom saber que eu estive preparado quando uma situação como essa bateu a minha porta.

Mas então a pergunta é: Como devo me inspirar para continuar ? Creio que a resposta para isso é muito simples: Continue trilhando o caminho, persista, valorize oque você já tem, tudo aquilo que você já construiu, valorize quem você é, seja criativo, busque novas formas, novos meios, adapte-se. Eu não digo que todos devem continuar a praticar o Parkour, mas que não se deve desistir de buscar algo que inspire e traga auto-conhecimento, força para enfrentar a vida sem se deixar iludir por coisas do mundo que te faça uma pessoa parada e estagnada. Eu nunca desisti do Parkour, porque para mim sempre foi uma fonte de força interior, e até hoje continua sendo. Sinto que meu caminho no Parkour sempre foi muito iluminado, até nos momentos mais críticos. Me considero uma pessoa de sorte por enxergar tudo que essa atividade pode trazer a vida de um ser humano. E também por sempre ter encontrado boas pessoas em meu caminho, as quais boa parte delas considero meus caros amigos, amigos de guerra eu diria, pois a cada momento difícil eu lembro que não estou sozinho nessa empreitada. Hoje é fácil ver que grande parte do que sou, devo a mim mesmo e ao quanto me dediquei ao que me propus.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Fortune Days.

Fica ai um registro do meu Parkour no mês de Janeiro. Estive com meu amigo Mauricio treinando e experimentando filmagens. Tenho muitas cenas da minha Viagem ao Reino Unido e estou editando algo para deixar como registro em breve.