Tenho visto
nos dias de hoje muitas iniciativas relacionadas ao ensino do Parkour,
principalmente em território nacional. E é legal observar que os praticantes
tem se preocupado em transmitir a disciplina às próximas gerações . Eu, como
alguém que também se dedica a esse tipo de ação não posso deixar de contemplar todo
esse movimento sem reparar na forma como ele ocorre. Creio que assim como qualquer outra
atividade, se o Parkour é passado adiante sem um mínimo de responsabilidade e
comprometimento para com a atividade, acaba-se gerando
situações desagradáveis, ou pior, a formação de não apenas praticantes medíocres,
mas também pessoas medíocres.
No Parkour
sempre houve esse discurso sobre liberdade. Não conheço um que não fale sobre
Parkour sem antes falar sobre a sensação de ‘’estar livre’’ que o Parkour
oferece. Eu como a maioria também me sinto livre quando estou praticando, porém
não confundo esse sentimento liberdade com o desleixo. E esse é um ponto super
importante quando estamos falando sobre ensinar Parkour. Pelo contrário do que
muitos pregam, Parkour não é sobre sair por ai sem um mínimo de preparo
buscando fazer coisas mais impressionante que os demais sob o argumento de que ‘’Parkour
é livre’’. Parkour é sobre progressão gradual, disciplina, sobre longetividade.
Muitos instrutores negligenciam algumas dessas etapas que são fundamentais para
o desenvolvimento do praticante. Já vi instrutor aqui no Brasil dizendo abobrinhas
como ‘’Antes do inicio dos treinos a coisa mais importante é saber a diferença
entre Parkour e Free Running’’, ou outros que focam os treinos apenas em saltos
aleatórios, com meia hora de conversa entre eles ignorando totalmente o significado de treino e o prévio condicionamento físico
necessário para aquele salto.
Não
acredito em um Parkour livre que não seja um Parkour que envolva disciplina, perseverança,
respeito a si próprio e a seu corpo, nem acredito em uma aula de Parkour que
não envolva esses aspectos. Não acredito nesse conceito de liberdade que envolva
graves lesões ou mesmo lesões crônicas que forcem o praticante a abandonar sua
prática com poucos anos de treino. E mais, não acredito nessa liberdade que
faça com que os praticantes se rivalizem ou mesmo se desrespeitem entre si ou
para com a sociedade que os cerca.
Para mim, um
verdadeiro praticante de Parkour é aquele que sabe de suas limitações físicas,
nem por um minuto brinca com elas por mero prazer ou para mostrar superioridade
aos demais. Ele sabe como deve se portar perante a sociedade, reconhece que se
quer que alguém o respeite, primeiro deve respeitar. É firme em suas decisões e
não decide fazer um salto sem saber que é capaz de faze-lo. É alguém que preza
não só pela força física, mas pela força mental e para isso o praticante se
desafia a todo momento, ele planeja, faz metas e tem foco. Quem pratica o
verdadeiro Parkour sabe que não existe treino com começo, meio e fim, o treino
é a todo momento, seja de uma forma ou de outra, ele está sempre preparado. Ele
não espera alguém lhe dizer o que é preciso fazer, ele mesmo sabe oque deve ser
feito e não exita em se colocar em ação. Mais importante que tudo, ele sabe que
a vida é um bem precioso, então ele a valoriza e com isso passa a valorizar a
si mesmo.
Essas
qualidades que acredito que um praticante deva ter são fundamentais para
aqueles que pensam em passar o Parkour adiante. Ensinar Parkour não é sobre
ensinar alguns movimentos ou brincadeiras, nem mesmo sobre passar algumas
flexões, outras tantas precisões e finalizar o treino. Ensinar Parkour é mostrar
um caminho para guerreiros, uma maneira de pensar e agir. É mostrar um caminho
de difícil acesso mas com grandes recompensas. É mostrar que não há aprendizado
sem a doação por completo naquilo que está sendo praticado. Não é possível ser
um bom instrutor sem antes ser um bom praticante, e é por isso que me preocupo quando
vejo instrutores querendo ensinar o caminho das pedras sem mesmo antes ter
passado por lá. Pior que enganar outras pessoas é enganar a si mesmo, e isso
agente aprende no próprio treino de Parkour. Ali é um terreno onde não é possível
se esconder, ou é ou não é, ou 8 ou 80. Um bom instrutor de Parkour se revela
mais nas coisas que ele faz, não nas que ele diz. Não digo que um instrutor
deve fazer 5000 agaixamentos ou um salto super incrivel para ser bom, mas que ele deve buscar
ser um exemplo a todo momento, ser fiél ao caminho escolhido. Ser o primeiro a
se colocar de pé quando todos já estiverem caídos, estimular os demais e
continuarem. Ser o último a beber água e o primeiro e estar pronto para continuar.
Ser um
instrutor de Parkour é uma grande responsabilidade e só é possível assumir esse
papel se você antes assume que você tem realmente algo de valor a ser passado. É
preciso até mesmo saber parar de exercer esse papel quando necessário, pois nem
sempre temos todas as respostas. Ensinar Parkour não é apenas ensinar um método
de se movimentar, é mostrar um método para a vida.