Durante
minha vida tive a oportunidade de conhecer e me envolver com pessoas de
diferentes nichos sociais. Desde aqueles com muitos recursos até aqueles que
lutam para viver com o pouco que tem. Dentro da esfera do Parkour nunca foi tão
diferente, há os que têm muito e os que têm pouco. Porém constato aqueles que
fazem muito com a pouca habilidade que possuem, também aqueles que não
conseguem encontrar uma utilidade com toda a força e técnica que lhes sobram.
Quem me
conhece sabe que sempre enalteci o termo ‘’Ser forte para ser útil’’, até mesmo
quando eu ainda não entendia bem seu significado e o interpretava de forma errônea. Me lembro que no inicio esse termo me servia
de combustível para sempre estar treinando de forma mais intensa. Acreditava
que em algum momento aleatório todo esse ganho físico e mental poderia me
servir para algo construtivo. Mesmo assim ainda não conseguia visualizar a real
utilidade para treinar tanto, simplesmente o fazia.
A verdade é
que eu tinha sede por descobrir tudo aquilo que eu poderia fazer com meu corpo
dentro da atividade e isso alimentava meu desejo por treinos de repetições. Não
havia sentido ir para um treino, fazer alguns saltos, algumas subidas de muro e
voltar para casa. Para mim não era um treino se não houvesse um foco em algo
que me fizesse gastar horas apenas moldando aquele determinado movimento, ou
determinada técnica. Por muitas vezes passei do meu limite, não me respeitei, vieram dores crônicas, stress muscular, distenções e até hoje meu corpo paga por alguns desses treinos que fiz. Mesmo assim eu continuava me questionando e tentando
encontrar uma real utilidade na minha vida para eu estar fazendo todo aquele
esforço.
Não faz
tanto tempo que minha visão sobre isso começou a clarear um pouco e tive
algumas conclusões a respeito desse tema. Quando eu ainda vivia na França eu
via uma real necessidade de falar o idioma francês pois se eu não aprendesse iria
realmente passar muitas dificuldades. Me vi em uma situação sem muita escolha. Eu
nunca escolhi aprender esse idioma, ele um dia simplesmente bateu a minha porta
e falou que teria que entrar de qualquer forma. Naquele período acabei me
desenvolvendo através desse novo idioma com a ajuda da minha esposa, com isso passei
a me comunicar naturalmente com a população local facilitando minha adaptação.
Quando voltei ao Brasil no ano passado, decidido a me estabelecer por aqui, simplesmente
deixei o francês de lado. Não é mais uma necessidade, não é mais tão útil para
minha vida como era antes. Contudo, ainda consigo praticar um pouco com minha
esposa às vezes, de certa forma é um pouco inevitável pelo fato de essa ser a lingua materna dela.
Homem forte ? |
Homem forte . |
Depois que
comecei a agir de forma realmente útil na minha vida sinto que muitas coisas
mudaram, inclusive meu porte físico. Menos massa muscular, mais resistência.
Sinto que tenho aprendido a treinar de uma forma um pouco mais inteligente que
antigamente, mas claro, sem deixar o espirito guerreiro de lado. Penso que se puxar e se desafiar é fundamental para a mente e para o espírito e por isso ainda crio treinos com repetições, desafios envolvendo saltos, ainda treino para ter força e explosão, mas sinto que hoje não
passo do ponto em que acho realmente necessário para meu corpo e para minha
vida. Não faço esses treinos por fazer, nem a todo momento, eu penso no que realmente é importante para mim antes de entrar em cena. Depois que comecei a dar aulas de Parkour aqui em Brasília sinto a
necessidade de passar uma visão de Parkour mais ampla, menos elitista, menos
engessada e mais funcional. Quero que cada um que venha aprender Parkour
comigo, aprenda primeiro a saber sobre si mesmo e suas limitações. Não quero
ser sempre a pessoa que irá dize-los em que momento parar e até onde devem ir,
quero que cada um deles aprenda a se guiar dentro da prática e descobrir seu suficiente.
Afinal, o Parkour não é nada mais que isso, a descoberta da autonomia ou a auto-descoberta.
Eu concordo
que tudo é um processo natural e que as coisas acontecem em seu determinado
tempo. Quando eu iniciei meus treinos, por exemplo, não tinha nenhuma idéia
disso tudo e só queria ser bruto, sem uma razão clara para isso. Mas nunca
deixei de me perguntar ‘’Para que isso tudo realmente me serve?``. As vezes observo praticantes já com muitos
anos de treino nas costas que não conseguem utilizar essa experiência para construir
algo realmente útil em suas vidas. A falta de questionamento e de iniciativas
úteis fazem com que muito potencial seja simplesmente jogado ao ralo. Por um outro
lado observo muitos praticantes com pouco tempo de treino, pouco desenvolvimento
dentro da atividade, mas que já encontraram um propósito ou uma utilidade. Sabem aplicar o pouco que tem em suas vidas e desenvolvem boas idéias.
4 comentários:
Achei lindo esse trecho, e não tem como não me identificar com ele.
"Depois que comecei a dar aulas de Parkour aqui em Brasília sinto a necessidade de passar uma visão de Parkour mais ampla, menos elitista, menos engessada e mais funcional. Quero que cada um que venha aprender Parkour comigo, aprenda primeiro a saber sobre si mesmo e suas limitações. Não quero ser sempre a pessoa que irá dize-los em que momento parar e até onde devem ir, quero que cada um deles aprenda a se guiar dentro da prática e descobrir seu suficiente. Afinal, o Parkour não é nada mais que isso, a descoberta da autonomia ou a auto-descoberta."
Olá Santigas, tudo bem?
Me chamo Erisson Barros (Reure), sou de Maceió-AL, praticante de Parkour e venho levando em minha cidade a iniciativa sem fins lucrativos de divulgar o Parkour em sua ampla e verdadeira esfera cultural, conceitual e física. A contribuição aleatória que acontece com cada Tracer e ao mesmo tempo agregando união, a interação de outros praticantes dentro e fora do Estado é a camisa que visto. Temos um Grupo chamado Aluí Parkour que tem esse objetivo definido de divulgar o Parkour verdadeiro, sem mesclagens, sem as metamorfoses que aconteceram por conta de Free Running.Conheci seu trabalho agora neste momento que escrevo por intermédio de uma postagem do PC Parkour (Paulo César) e confesso está admirado com tudo, com a dinâmica que utiliza para se comunicar por este Blogger para com os visitantes, praticantes. Assim como a humildade na transmissão de conhecimento. Continue o trabalho meu caro Santigas, prazer em conhece-lo!
"Havendo Homens honrados com propósitos únicos, o mundo progride com ascensão".
Abraço!
SOBERBO.
Gostei do post. O papel de um instrutor de Parkour é ajudar seus alunos a construir confiança suficiente para que eles não necessitem mais dele. O negócio é por aí mesmo, abraços do sul.
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