segunda-feira, 14 de junho de 2010

As crianças e o bloqueio mental


Acho incrível a facilidade que as crianças num geral tem para se movimentar, a percepção que elas tem do ambiente. Elas estão em um período de descoberta do corpo, e ainda não possuem muitos traumas e bloqueios em suas mentes.

Saí para treinar na noite passada aqui no condomínio onde moro, já estava no período norturno, e incrivelmente fazia muito frio(sim, aqui e Brasília) lá fora. Fiz alguns exercícios simples para aquecer o corpo, e comecei a fazer um treino bem técnico, com alguns percursos buscando sempre uma maior variedade na movimentação. Só para deixar claro, esse local onde treino regularmente, se trata de um ambiente basicamente feito para crianças e jovens na pré-adolescencia, com uma pista de skate, e algumas estruturas construídas para elas brincarem.

Geralmente quando saio para treinar aqui no condomínio, procuro observar pela janela se há crianças brincando no local, pois me desanima um pouco treinar com elas por perto nas vezes que pretendo fazer um treino mais focado, buscando uma real evolução técnica ou física. Bom, o fato é que durante qualquer treino que eu faça que há crianças por perto, elas tendem a ficar perguntando muitas coisas e pedindo para eu repetir algum movimento milhares de vezes, se impressionam facilmente. E nas vezes que estou em um momento de busca por uma concentração maior, fica impossível fazer isso por conta da presença da criançada. Tirando essas vezes em que estou mais individualista, eu adoro mostrar e falar um pouco do Parkour para as crianças que se aproximam, pois tem umas que realmente são bem imprudentes desde a infância e precisam de uma instrução maior.

Bom, voltando aos fatos, estava eu lá concentrado em meu treino, quando surge um pequeno grupo de 3 pequenos travessos, cada um ali por volta seus 8 anos de idade. Como já era esperado, começaram a se espantar com qualquer simples salto de precisão que eu efetuava, e pediram para que eu fizesse mais vezes, dando até algumas dicas de movimentação para mim. È incrível como tudo se torna bem maior do que realmente é, quando se tem essa idade, não é mesmo? Então estava ali, acabado o meu treino, o jeito foi ir fazer alguns planches ainda ali por perto, porque pelo menos isso não é algo que precise de extrema concentração ao meu ver, é uma questão de usar a força e pronto GRRR.

Um dos meninos se aproximou de mim e me propôs uma brincadeira, que era a seguinte: atravessar toda a região onde fica uma grande estrutura “playground”, e chegar o outro lado. Mas isso com uma regra: todas as partes de coloração azul da estrutura não poderiam ser tocadas. Resumindo, era uma brincadeira totalmente relacionada ao Parkour, mesmo que ele não chamasse isso de Parkour. Infelizmente, eu tive que falar pra ele que eu não poderia participar, pois a estrutura possui uma placa escrito que é proibido o uso por adultos, e eu procuro respeitar isso, mesmo que as vezes e utilize as partes onde tem umas barras que são bem firmes e resistentes para se fazer algum exercício de condicionamento dos braços.

Mesmo eu não participando da brincadeira, eu o desafiei a tentar sozinho mesmo. O menino então topou e começou a escalar a estrutura. Fiquei “perpréctu” (como já diria Gil Brother), quando observei a facilidade com que garoto criava alternativas para se mover no ambiente, percursos que eu não conseguia enxergar antes de ele iniciar a brincadeira. Ele fez um percurso totalmente improvável para mim, e em alguns momentos em que eu achei que ele iria travar em medo de cair de estrutura, ele passou normalmente, sem exitar em hora alguma. Achei tudo muito incrível, principalmente a percepção corporal do menino. Isso me fez lembrar da minha infância, e nas coisas que eu costumava aprontar por ai sem medo algum. Lembro de uma vez que pulei de uma ponte de uns 20 metros para a água, com uns 12 anos de idade, e que hoje eu não sei se pularia. No final eu o parabenizei e disse que achei bem legal a forma como ele concluiu o trajeto. Depois disso passou algum tempo, fiz um alongamento, me despedi dos garotos e fui embora.

Eu sei que aprendi muito com esse menino. Desde o inicio dos meus treinos sempre tive muito bloqueio com altura, já tive muitas conquistas sim, evoluí, mas tenho que estar exercitando isso freqüentemente para não regredir. Tudo isso me fez refletir sobre os bloqueios mentais que adquirimos ao longo da vida, e que às vezes podem nos fazer mal. O fato é que no final, ganhei uma lição:
Ás vezes as pessoas precisam confiar em seu próprio instinto, e as que exercitam ele freqüentemente(nós do Parkour por exemplo) precisam mais ainda.


Até Breve!

Pedro Santigas

5 comentários:

Mauricio disse...

Poxa amigo...q belas palavras!!Realmente as crianças nos ensinam mt ...ja fomos crianças e ao crescer perdemos mt do q eramos ...coisas que deveria permanecer!! Toda vez que vimos uma criança andando na rua ela nunca vai pelo mesmo lugar q os adultos ..sempre tenta pular algo..equilibrar no meio fio!!
Gostei mt do seu post..concerteza me ajudou pois sou medroso a bessa !!
abraço

Duddu Rocha disse...

eu AMO crianças! UAUHUAHUAHUAHU Você falou uma coisa que vc falou e que acontece muito comigo! Essa coisa de sair pra treinar focado e as crianças perguntando e pedindo pra repetir! Veio... dá vontade de sair correndo! HUHUAHUAHUAHUAHU

Mas concordo em genero numero e grau. Todo workshop que fiz com crianças eu aprendi mais com elas do que elas comigo.

Thiago Lima disse...

Muito bonito o que fala sobre as crianças. Tiro pelo meu próprio filho, e lembrou também o post que o Duddu fez sobre as crianças em um paralelo com o parkour.
As crianças me inspiram com a capacidade de não delinear o que é isso e o que é aquilo, e ao observar o mundo através de uma forma unilateral, acabam por ser puramente sinceras em sua forma de agir e de pensar, até que sejam corrompidas pelo mundo em que vivem e comecem a pluralizar o universo.

Belíssimo assunto a ser abordado.
Abraço,

Thiago Lima.

Anônimo disse...

Vc eh lindo pena estar indo embora!

Psico disse...

Verdade!! Sou acrobata, capoeirista e professor de educação física. Dou aulas em pré-escolas há 5 anos e realmente, as crianças tem muito para ensinar!! Estou sempre me surpreendendo com elas! :)
Parabéns pelo texto, gramde abraço!